A atual região da Paraíba foi habitada por diversos povos indígenas, que em sua maioria foram dizimados pelos colonizadores, além disso, sabemos que tais grupos foram silenciados pela história e pela memória coletiva, a ponto de desconhecermos quase por completo suas práticas cotidianas e a herança cultural que deles recebemos. Dentre os grupos que viviam em território paraibano estavam os tupi, os cariris e os tarairiús, esses dois últimos são os mais importantes a serem ressaltados no estudo dos primeiros habitantes da região caririzeira.
A nação tupi da Paraíba dividia-se em potiguaras e tabajaras, e fixaram-se na região litorânea da capitania. Em parte da atual microrregião do Cariri paraibano e do Sertão havia os tarairiús formado pelos sucurus, canidés, janduís, pegas, ariús dos paiacús, panatis, e os ariús de Campina Grande, enquanto os cariris eram composto pelos bultrins da região de Pilar e Alagoa Nova, os fagundes ou bodopitás de Campina Grande, já na fronteira com o Ceará os icós e os curemas e por fim os carnoiós em Boqueirão e Cabaceiras, como podemos observar a seguir:
Do período colonial até meados de século passado os índios de nosso cariri eram classificados de forma simplista, em que todos os grupos do interior da Paraíba recebiam a nomenclatura de tapuias ou cariris, não havendo assim, a distinção de tais grupos. Na realidade esses grupos eram muito diferenciados, como no porte físico, por exemplo, os cariris eram de estatura baixa e crânio achatado, já os tarairiús eram de estatura alta e apresentava um alongamento craniano.
A dança dos tapuias - Albert Eckhout c. 1610 a 1660 |
Geralmente os cariris e os tarairiús são enquadrados no tronco linguístico macro-jê, praticavam agricultura sazonal de milho, batata, algodão, mandioca entre outros, alguns desses grupos também apresentavam um deslocamento sazonal para desenvolver atividades como a pesca, coleta e caça. A farinha de mandioca ou farinha de guerra, como era chamada, foi inicialmente produzida por esses povos, tal produto até hoje é um dos grandes importantes componentes alimentares e econômicos do nordeste.
Uma das diferenças entre tarairiús e cariris estava relacionada com a relação destes grupos com a ritualidade da morte, os tarairús praticavam o endocanibalismo que consistia em queimar os familiares e indivíduos próximos quando faleciam depois misturavam suas cinzas com mel e comiam para manter a comunhão com o morto, os cariris já tinham a prática de enterrar os mortos em igaçabas, isto é, uma espécie de potes de barro.
Para cultura caririzeira várias crenças herdamos dos índios como o costume de se acreditar em agouro a partir de cantos de pássaros, como também em entidades da natureza como a caipora ou "cumade flôzinha" que segundo a tradição desde o tempo dos indígenas ajudam ou dificultam a caça, outra prática que persiste atualmente, e que recebemos destes nossos antepassados, foi a da abstenção de alimentos, como carnes de porco, tatu e etc. pois o corpo estava remoso.
São inúmeras as
heranças culturais deixadas pelos povos indígenas para a formação do paraibano
e consequentemente do caririzeiro, pois onde hoje chamamos cariri foi habitado
tanto pelos índios cariris quanto pelos tarairiús, por tanto, não devemos
esquecer que os indígenas foram formadores de nossa cultura, que mesmo muitos
deles ter sido dizimados, sofridos aculturações e miscigenações, um pouco de
sua mentalidade ainda está presente no nosso cotidiano e merecem ser lembrados
não como sujeitos submissos ao colonizador, mas como os primeiros que habitaram
nosso território e que foram livres e portadores de uma rica cultura.
Renato Cavalcante de Souza
Cabaceiras-PB
13 de setembro de 2017
REFERÊNCIAS:
BARBOSA, José Elias Borges. As nações indígenas da Paraíba. Palestra ao
Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba (IHGP).
SANTOS, Juvandi de Souza Cariri e Tarairiú? culturas tapuias nos sertões
da Paraíba. Porto Alegre, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, PUCRS,
2009.
http://3.bp.blogspot.com/AOS3l6tr0KQ/USgtJAkAYXI/AAAAAAAABAU/CLsx4vzVGYo/s1600/mapa+indigenas+para%25C3%25ADba.jpg
Nenhum comentário:
Postar um comentário